Qualificação Profissional – Competitividade – Crescimento Económico

conferenciaConferência “Qualificação Profissional” analisa sucesso do modelo dual, 20.07.15; AHK-Kammernews.

A Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã organizou a Conferência “Qualificação Profissional – Competitividade – Crescimento Económico”, no dia 23 de junho de 2015, no Museu da Fundação Oriente, em Lisboa, na qual participaram como oradores a Ministra alemã da Educação e da Investigação, Johanna Wanka, o Ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, e o Ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, Pedro Mota Soares. Neste encontro, onde estiveram também presentes numerosos representantes de empresas e instituições ligadas à formação, debateu-se o impacto da qualificação profissional dual sobre a economia e o futuro do país. Faça aqui o download das apresentações da Conferência.

 

Ao longo de todo o dia foram discutidos temas como a educação e formação profissional dos jovens; o trabalho e a competitividade; os requisitos do estado para um ensino profissional eficaz; as razões pelas quais os jovens preferem uma educação e formação profissional; e a cooperação bilateral.



Formação como fator de competitividade e de apoio ao emprego
Na sessão de abertura, Johanna Wanka destacou a importância da formação em todas as suas vertentes como a base para um emprego a longo prazo. Neste contexto, a Ministra apresentou o exemplo alemão: naquele país, um dos países europeus com a mais baixa taxa de desemprego, apenas 2% da população com uma formação académica está sem trabalho, enquanto 19% daqueles que não apresentam qualquer tipo de formação estão desempregados. Johanna Wanka congratula-se por isso com a intenção de Portugal alargar a oferta de formação dual no país, pois a combinação das aprendizagens teóricas e práticas, pode desempenhar um papel importante e pode ser “um bom meio para lutar contra o desemprego jovem” a longo prazo.
A mesma linha de raciocínio foi defendida por Thomas Giessler, da Confederação Alemã de Sindicatos – DGB, que indicou o elevado número de jovens alemães que optam por formação profissional dual, concretizando-se 600 mil contratos desta natureza por ano. Mais, após o curso, 66% dos formandos começam a trabalhar na empresa onde fizeram formação. Muitos outros começam a trabalhar noutra empresa e outros ainda optam por continuar a estudar no ensino superior.
Estes valores vêm confirmar que efetivamente o sistema dual é a ponte para a empregabilidade. Para além disso, na Alemanha, os formandos não são vistos como estudantes e recebem uma bolsa significativa. São considerados trabalhadores da empresa – a responsável por lhes transmitir conhecimentos.
Por sua vez, João Santos, da Direção-Geral do Emprego, dos Assuntos Sociais e Inclusão da Comissão Europeia, expôs o paradoxo da situação que se vive na Europa: ao mesmo tempo que temos 25 milhões de desempregados, existem 2 milhões de ofertas de emprego por preencher, uma situação que se deve à fraca mobilidade laboral e à desadequação entre a formação e as necessidades das empresas. Já nos países onde existe o sistema dual, nos quais a formação tem uma grande ligação com as empresas, verifica-se que as taxas de empregabilidade dos jovens são mais elevadas e as taxas de desemprego mais baixas.
Num breve discurso, Almeida Sampaio destacou os resultados excelentes que Portugal obteve num projeto de colaboração que a Alemanha iniciou em 2011 com vários países em todo o mundo. Desta forma, para o Embaixador, Portugal aproxima-se da fusão de sólida formação académica e formação profissional flexível e adaptável, na linha do que já outros oradores tinham expressado.

Vários contributos para garantir o sucesso
A adequação entre a formação e as necessidades das empresas como uma das grandes vantagens do sistema dual foi apontada por vários oradores. Desde logo, o Ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, Pedro Mota Soares, destacou a elevada procura dos centros de formação com ligação às empresas em virtude do mercado reconhecer a competência destes formandos e a qualidade inerente a este tipo de formação, que é uma mais-valia para as empresas vingarem no futuro.
Uma ideia-chave na qual vários oradores insistiram é a necessidade de todos os parceiros – empresas, jovens, sociedade, sindicatos, associações e Estado – assegurarem que a formação está efetivamente adequada à realidade do mundo do trabalho.
Neste contexto, Oliver Heikaus, representante da Associação das Câmaras de Comércio e Indústria Alemãs (DIHK), destacou os benefícios para as empresas – que podem influenciar o conteúdo e a organização da formação e recebem trabalhadores qualificados que asseguram a produtividade -, para os jovens – que entram diretamente no mercado de trabalho da sua área de formação e recebem desde o início uma remuneração – e para o Estado, que mantém o seu investimento em formação profissional controlado, ao mesmo tempo que vê reduzida a taxa de desemprego jovem.
Também João Girão, representante da AIMMAP, reforçou a importância do papel das empresas na definição das políticas estratégicas de gestão da formação e na sua operacionalização. “Sem uma intervenção direta das empresas não pode haver uma solução vencedora”, afirmou.
Thomas Giessler salientou igualmente que o sistema dual baseia-se numa direção multi-stakeholder, na qual o envolvimento de todas as instituições é fundamental para o seu sucesso.
Esta é uma ideia sublinhada também por Reinhold Weiß, Vice-Presidente do Instituto Federal para o Ensino Profissional (BIBB), que referiu a importância do envolvimento dos vários parceiros no projeto de formação. Para este responsável, o sucesso da formação depende do contributo de todos os atores. Destacou ainda que a forma como as organizações empresariais e os sindicatos são integrados depende da tradição de cada país, não havendo um modelo “certo”. Aliás, o sistema alemão também não é estático: antes resulta de um desenvolvimento ao longo de muitos anos, um desenvolvimento que certamente ainda não terminou.

Em cada país uma realidade diferente
A necessidade de adaptar a formação dual à realidade de cada país foi mencionada por vários intervenientes desta Conferência. O Ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, afirmou que Portugal está a perceber “as grandes vantagens” do modelo de ensino alemão e prova disso são as empresas que já contribuem para a formação profissional dos jovens. No entanto, foi perentório ao afirmar que Portugal não pretende copiar a experiência alemã, pelo contrário, há alguns fatores distintivos, em função de uma realidade diferente.
Bruno Teixeira, representante da UGT, referiu algumas das razões pelas quais o modelo alemão não pode ser aplicado na sua totalidade à situação portuguesa: devido à economia debilitada e à pouca capacidade de criação de emprego. Porém, sabe que a formação é uma via para a saída da crise, sendo o ensino profissional a primeira escolha quando inserido numa área de empregabilidade.
Já Jörg Heinermann, Presidente da CCILA, sublinhou que o sistema dual, um dos pilares do sucesso alemão em termos económicos, tem de ser flexível com uma base sólida, nos conhecimentos teóricos e práticos. É por esta razão que o sistema dual alemão não pode ser replicado em Portugal, pois os países e as suas culturas são distintas. Há a necessidade de encontrar um caminho, através da criatividade e da flexibilidade, para a implementação devidamente adaptada à realidade portuguesa.

A mais-valia do saber fazer
A importância dos conhecimentos transmitidos durante a formação e a sua efetiva adequação ao mundo empresarial foram apontados por vários intervenientes como um dos aspetos que tornam o sistema dual tão eficaz.
Octávio Oliveira, Secretário de Estado do Emprego, destacou a necessidade de o país ter uma educação e uma formação profissional nas áreas industriais orientada para os domínios do saber-fazer, vias que auxiliem o processo de reindustrialização do país.

Também os testemunhos de dois ex-formandos - Irene Krawczyk, certificada com formação dual na Alemanha, e atualmente formadora no sistema dual; e Luís Pinto, fruto da educação dual em Portugal, sem curso universitário, hoje diretor da empresa que criou – exemplificaram que a via da formação profissional, pelos conhecimentos práticos que transmite e pela sua proximidade com a realidade empresarial, constitui uma opção com a mesma validade que a via do ensino superior. O caminho que é escolhido depende das preferências e das competências individuais, sem que haja um juízo de valores subjacente à escolha feita.